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17-fev-2015 -- Esta narrativa é uma continuação da visita 3S 49W.
Após passarmos o feriado de Carnaval em Belém, iniciamos nossa viagem de volta para Marabá na terça-feira, dia 17 de fevereiro, por volta das 7h30min. Decidimos fazer um caminho diferente na volta não apenas com o intuito de visitar a confluência 2S 48W, mas também para evitar a travessia de balsa na cidade de Moju, que na viagem de ida nos obrigou a ficar três horas esperando.
Embora tenhamos feito duas travessias de balsa na viagem de ida de Marabá para Belém, é possível fazer toda a viagem sem realizar qualquer travessia, utilizando um percurso mais longo, através da BR-010, a rodovia Belém-Brasília. No nosso caso, porém, com o intuito de visitar a confluência 2S 48W, faríamos uma outra travessia de balsa, diferente das duas da viagem de ida, nas proximidades da cidade de Bujaru.
Quando eu visitei a confluência 2S 49W, pouco menos de três meses atrás, eu comentei que eu pretendia, no mesmo dia, visitar esta confluência 2S 48W, mas tal visita não foi possível por falta de tempo.
Deixamos Belém pela BR-316, seguindo o caminho normal em direção à Belém-Brasília e, ao chegarmos à cidade de Santa Isabel do Pará, pegamos a rodovia PA-140, à direita, em direção à balsa sobre o rio Guamá, na cidade de Bujaru. Ao chegarmos lá, tivemos que esperar por 50 minutos até o horário de travessia da balsa.
Após a travessia, seguimos viagem até pararmos pouco antes da cidade de Concórdia do Pará, quando então estávamos a 700 metros da confluência. Esta é uma das raras confluências nas quais a visita não inclui um trecho em estrada de terra. Tudo indicava que seria uma confluência fácil, como havia sido a confluência da viagem de ida, mas a realidade foi totalmente diferente.
Assim que paramos o carro, um outro carro passou por nós e entrou em uma fazenda localizada próxima à confluência. Embora minha intenção inicial fosse não me aproximar da sede da fazenda, neste caso não havia essa possibilidade, uma vez que era necessário atravessar um córrego e, para isso, a única opção era utilizar uma passagem aterrada localizada bem em frente à fazenda.
Fiz a travessia do córrego e, como eu estava muito próximo do carro que passou por nós, não pude ignorá-lo. Fui até ele e pedi permissão para entrar pelo mato para tirar algumas fotos. A permissão foi concedida. Na verdade, a pessoa com quem eu conversei nem era o dono da fazenda, que, aparentemente, estava vazia.
Quando eu entrei no mato eu estava a cerca de 400 metros do ponto exato. Pelas fotos de satélite do Google Earth que eu havia impresso previamente, dava para distinguir claramente as áreas de mato e as áreas de floresta, e era possível chegar ao ponto exato evitando a floresta. No entanto, a realidade do local era bem diferente. À medida que eu caminhava, o mato ia ficando cada vez mais alto e não era possível distinguir onde terminava o mato e começava a floresta. No final das contas, eu entrei na floresta sem perceber e o caminho foi ficando cada vez mais fechado e mais difícil. Havia muitos espinhos, os cipós a todo momento se enrolavam em minhas pernas ou em minha cintura, bloqueando a passagem, e o progresso foi se tornando cada vez mais lento e cansativo.
Quando eu estava a 140 metros do ponto exato, eu cheguei a pensar em desistir, mas, como faltavam apenas 40 metros para chegar ao limite de registro bem-sucedido da visita, decidi seguir em frente. Enfrentando cada vez mais dificuldade, cheguei a 92 metros do ponto exato. Sem ânimo para prosseguir, parei e fiz o registro da confluência, cercado por mata fechada por todos os lados e sem qualquer trilha ou abertura que permitisse um retorno mais fácil.
Antes de iniciar o caminho de volta, selecionei no GPS a marcação do ponto onde se localiza a fazenda, a pouco mais de 300 metros do local em que eu estava, com o intuito de me orientar. Em seguida, tomei a decisão de fazer um caminho diferente do que fiz na ida, na esperança de encontrar uma trilha ou uma área de mata menos densa. Tal fato não aconteceu, e o caminho de volta acabou se revelando ainda pior. A mata foi ficando ainda mais densa e chegou um ponto em que o GPS perdeu o sinal. De qualquer forma, ele estava sendo de pouca utilidade, uma vez que o meu progresso era tão lento que a seta do GPS ficava instável e não indicava o caminho a seguir.
Andei por um bom tempo sem a ajuda do GPS, sempre com o receio de estar andando em círculos. A única referência que eu tinha era uma música que eu estava ouvindo. Naquele momento, eu pensei que a música provinha do carro que passou por nós, mas depois eu viria a descobrir que a música estava vindo de uma outra fazenda, localizada do lado contrário da rodovia. De qualquer forma, ela estava ajudando a me orientar.
Após caminhar mais um pouco, já percebendo que meus braços e minhas mãos estavam cada vez mais arranhados, eu me vejo obrigado a sentar para descansar, por absoluta falta de condições para prosseguir. Fiquei uns quinze minutos sentado, descansando, e ainda teria que parar por inúmeras vezes, não apenas voluntariamente, mas em virtude de sucessivas quedas, após as quais, uma vez no chão, eu não tinha ânimo para me levantar de imediato.
Nesse momento, eu comecei a perceber que a situação estava ficando grave. Embora eu tinha ciência de que minha esposa e meu filho estavam preocupados com minha demora, uma vez que já havia passado mais de duas horas desde o início da caminhada, eu precisava agir racionalmente e não me apressar, uma vez que a prioridade era sair dali. Pensando dessa forma, eu fui prosseguindo, muito lentamente, parando para descansar quantas vezes fosse necessário.
Em um dado momento em que fiquei durante um tempo maior sentado, descansando, o GPS recuperou o sinal e me mostrou que eu estava a apenas 140 metros da fazenda. Foi um momento de grande alívio, porque isso significava que faltavam apenas uns 50 metros para sair da mata fechada. Com o ânimo revigorado eu segui em frente e finalmente consegui sair da floresta e pegar uma trilha. Porém, ao invés de sair na mesma fazenda em que eu tinha iniciado a caminhada, acabei saindo em outra. Foram nada menos que três horas gastas para caminhar cerca de 650 metros.
Diante do extremo cansaço, não tive o menor ânimo para me desviar da sede da fazenda. Ao passar por ela, uma pessoa que estava a alguns metros me informou que a porteira estava trancada. Só tive ânimo para dizer que eu a pularia. Ao chegar à porteira, no entanto, não tive ânimo de pulá-la. Parei para descansar mais um pouco e, nesse intervalo, a pessoa que havia falado comigo se aproximou para abrir a porteira para mim. Pedi desculpas por ter invadido a fazenda e disse que eu tinha me perdido na mata.
Ao chegar ao asfalto, fui resgatado pela minha esposa e pelo meu filho, que vieram até mim com o carro, e nem tive ânimo de tirar outras fotos, comuns em outras visitas a confluências, mostrando o ponto da rodovia mais próximo da confluência e o local onde paramos o carro. Eu simplesmente entrei no carro, comecei a beber água e minha esposa assumiu a direção, dando prosseguimento à nossa viagem.
Paramos na cidade de Concórdia do Pará para comprar um lanche e mais água. Continuei no carro descansando, comendo e bebendo água. Seguimos viagem por mais algum tempo, e paramos no acostamento da estrada para que eu lavasse os braços e as mãos, muito arranhados, e trocasse de roupa. Já estava bem mais descansado, mas minha esposa continuou na direção por mais algum tempo.
Passamos pela cidade de Mãe do Rio, onde pegamos a rodovia Belém-Brasília. Nesse momento, estávamos ainda a 490 quilômetros de Marabá e já passava das 4 horas da tarde. Minha esposa seguiu na direção por mais algum tempo, até que começou a cair uma tempestade muito forte e então eu voltei a dirigir, com alguma dificuldade, porque a mão direita estava com muitos cortes.
O restante da viagem foi tranquilo e num ritmo bom, uma vez que a estrada estava em condições muito boas e livre de tráfego pesado. Quando anoiteceu, já estávamos deixando a rodovia Belém-Brasília, na cidade de Dom Eliseu, a 240 quilômetros de Marabá. Paramos para tomar um lanche em um povoado próximo à cidade de Rondon do Pará e chegamos a Marabá por volta das 21h30min.
Esta foi, sem sombra de dúvidas, a mais difícil confluência que já visitei até hoje. Segundo as informações fornecidas pelo visitante anterior, há um meio mais fácil de alcançá-la. Entretanto, como a citada visita ocorreu há dez anos, não sei se tal caminho ainda existe.
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17-Feb-2015 -- This narrative continues from 3S 49W.
After spending the Carnival holidays at Belém city, we came back to Marabá city Tuesday, 17 February, about 7:30. We decided to make other way not only to visit 2S 48W confluence, but also to avoid the ferry at Moju city, in which we needed to wait by three hours when going to Belém.
Although we made two ferry crossings when going from Marabá to Belém, it’s possible to make the whole trip without making any crossing river, using a longer way, by BR-010 Belém-Brasília highway. In our case, however, in order to visit 2S 48W confluence, we needed to make other ferry crossing, different of other two, near Bujaru city.
When I visited 2S 49W confluence, a bit less than three months ago, I commented that I would intend, in the same day, visit this 2S 48W confluence, but this second visit wouldn’t been possible due to lack of time.
We left Belém by BR-316 highway, following the normal way heading to Belém-Brasília highway and, when arriving at Santa Isabel do Pará city, we turned right and caught PA-140 highway, heading to the ferry over Guamá River, at Bujaru city. When arriving there, we must wait by 50 minutes up to the ferry departing time.
After the crossing, we went ahead up to stop a bit before Concórdia do Pará city, when we were 700 meters to the confluence. This is one of the rare confluences in that there isn’t a leg in dirt road. All indicates that it would be an easy confluence visit, as it was the previous one, but the reality would be completely different.
When we stopped the car, other car passed by us and got in a farm located near the confluence. Although my intention was not to approach to the farmhouse, in that case, there wasn’t other possibility, because it was necessary to cross a stream, and the only way to do this with dry feet was using a banked passage in front of the farm.
I cross the stream and, as I was so near to the car that passed by us, I can’t ignore it. I went up to it and asked permission to get in the bush in order to take some photos. The permission was granted. In reality, the person that talked with me wasn’t the owner of the farm and the farm was, apparently, empty.
When I got in the bush, I was about 400 meters to the exact point. The Google Earth satellite photos previously printed showed a clear distinction between the bush area and the forest area, and it was possible to go up to the exact point avoiding the forest. However, the local reality was very different. The more I hiked, the more the bush turned taller and it wasn’t possible to identify where the bush ended and where the forest started. All in all, I entered in the forest without realize it and the path turned more and more dense and hard. There was many thorns, the liana enrolled my legs and my waist all the time, blocking my passage, and my progress turned more and more slow and tiring.
When I was 140 meters to the exact point, I started to think about give up, but, as I was only 40 meters to the successful visit limit, I decided go ahead. Facing more and more hardness, I went up to 92 meters to the exact point. Without any mood to go ahead, I stopped and registered the confluence, with dense forest all around and without any track or access that would allow an easier return.
Before starting the way back, I selected the GPS mark of the farm location, a bit more than 300 meters to the place where I was, in order to guide me. Then, I took a decision to make a different way coming back, hoping to find a track or a less dense forest area. This didn’t happen, and the way back was worse. The forest turned more and more dense and the GPS lost the signal. In any case, it wasn’t helping me anymore, because my progress was so slow that the GPS arrow turned instable, not indicating the direction to follow.
I hiked a lot of time without GPS help, always with the fear of be walking in circle. My only reference was the music that I was hearing. In that moment, I thought that the music came from the car that passed by us, but after I would discover that the music was coming from other farm, in the other side of the highway. In any case, it was guiding me.
After hiking a bit more, realizing that my arms and my hands was more and more scratched, I decided to sit and rest, due to absolute lack of condition to go ahead. I spent about fifteen minutes sitting, resting, and I would stop several times yet, not only voluntarily, but also due to a lot of falls, after them, being in the ground, I hadn’t mood to lift immediately.
In this moment, I started to realize that the situation turned serious. Although I knew that my wife and my son were concerned about my delay, because I already spent more than two hours since the start of hike, I must act rationally and don’t accelerate me, because the top priority was to quit from there. Thinking this way, I went ahead very slowly, stopping to rest as many times as necessary.
In a moment in that I spent a greater time sitting, resting, the GPS recovered the signal and show me that I was only 140 meters to the farm. It was a great relief, because this means that there were only about 50 meters remaining to leave the forest and find a track. With my mood recovered, I went ahead and finally managed to leave the forest and caught a track. However, instead of be in the same farm in that I had started the hike, I was in other one. I spent three hours to hike about 650 meters.
As I has extremely tired, I hadn’t any mood to make a detour avoiding the farmhouse. When passing by it, a person some meters far of me informed me that the farm gate was locked. I had mood only to answer that I would jump it. When arriving at the gate, however, I hadn’t mood to jump. I stopped to rest a bit more and, in that interim, the person that talked with me approached to open the gate. I apologized due to invade his farm and I said that I was lost in the forest.
When I arrive at the asphalt, my wife and my son rescued me with the car, and I hadn’t any mood to take the traditional photos showing the point of the highway nearest to the confluence and the point in that I stopped the car. I simply got in the car, started to drink water and my wife drove it, continuing the trip.
We stopped at Concórdia do Pará city to buy snack and more water. I continued in the car resting, eating and drinking water. We went ahead and, some time ago, we stopped at the shoulder, I washed my arms and my hands, very scratched, and changed my clothes. I was much more rested, but my wife continued to drive the car some time more.
We passed by Mãe do Rio city, where we caught Belém-Brasília highway. At that moment, we were yet 490 kilometers far to Marabá and it was more than 16:00. My wife continued driving some time more, up to the moment in that a thunderstorm started to fall. Then, I started to drive, with some hardness, because my right hand had many cuts.
The rest of the trip was calm and fast, because the highway was in very good condition and free of heavy traffic. When the night fell, we were leaving Belém-Brasília highway, at Dom Eliseu city, 240 kilometers far to Marabá. We stopped to take a snack in a village near Rondon do Pará city and arrived at Marabá about 21:30.
This was, without any doubt, the hardest confluence ever visited by me. According to information from the previous visitor, there is an easier path to reach the confluence. However, as the cited visit occurred ten years ago, I don’t know if this path still exists.