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29-mar-2015 -- Esta narrativa é uma continuação da narrativa da confluência 7S 49W.
Após passarmos a noite em um hotel na cidade de Araguaína, saímos por volta das 8h30min em direção à segunda confluência da viagem, cujo acesso é feito por uma estrada de terra que se inicia na rodovia BR-153 entre as cidades de Araguaína e Wanderlândia.
Iniciamos o trecho em estrada de terra, inicialmente em boas condições. Eu sabia, a partir da análise das fotos de satélite, que permaneceríamos na estrada principal pelos primeiros nove quilômetros, e depois, haveriam outros dez quilômetros em uma estrada secundária, cujas condições de tráfego não era possível prever.
Ao pegarmos o trecho secundário da estrada de terra, percebemos que ele estava em péssimas condições, quase intransitável. Embora houvesse marcas de pneus, aparentemente a estrada estava sendo usada apenas por carros grandes. Após percorrermos mais uns três quilômetros, o carro atolou e não conseguimos mais avançar, nem retroceder.
Descemos do carro e analisamos a situação. Percebemos que era absolutamente inviável prosseguir, e a única coisa a fazer seria desatolar o carro e retornar pelo mesmo caminho, desistindo da visita à confluência.
Não havia nenhum barro na região, e o carro estava atolado, na verdade, na areia. A primeira tentativa foi remover a areia que se acumulou atrás das rodas dianteiras do carro, com o intuito de permitir que ele conseguisse tração suficiente para retornar. Essa tentativa não funcionou a contento, e, após analisar mais um pouco o problema, percebi que o que estava acontecendo de fato é que um banco de areia posicionado no meio da estrada havia prendido o carro pelo fundo, deixando as rodas dianteiras praticamente suspensas.
Tentei inicialmente remover toda a areia acumulada embaixo do carro, mas o trabalho se revelou muito difícil, por falta de ferramenta. Decidi, então, que uma boa tentativa seria levantar o carro com o macaco, para então apoiar a roda em um patamar mais alto, colocando embaixo dela um pedaço de madeira ou mesmo uma boa quantidade de areia compactada. Fazendo isso com as duas rodas dianteiras, uma de cada vez, o fundo do carro se descolaria da areia.
Quando eu já tinha pegado o macaco no porta-malas e ia começar esse trabalho, uma moto se aproximou e parou próximo a nós. Explicamos o que havia acontecido e a pessoa, que se chamava Altino, se dispôs a ajudar. Ele chegou à mesma conclusão que eu, ou seja, que a solução seria usar o macaco para suspender a roda. No entanto, ele fez uma sugestão que se revelaria desastrosa: disse que o melhor seria seguir em frente, e não voltar pelo caminho pelo qual viemos! Segundo ele, as condições da estrada estariam melhores dali em diante e o caminho pelo qual viemos, embora não nos tenha atolado, poderia vir a atolar quando estivéssemos voltando, porque trechos de descida se tornariam nesse segundo momento trechos de subida.
Decidimos confiar no que ele havia dito, uma vez que ele estava realmente disposto a ajudar, e, aparentemente, conhecia a região mais do que nós. E, de fato, usando o processo que eu havia pensado, ou seja, suspendendo a roda com o macaco e apoiando-a com um pedaço de madeira, conseguimos desatolar o carro com certa facilidade.
O maior problema, porém, ainda estava por vir. Menos de um quilômetro depois, acabamos enfrentando a mesma situação, e desta vez de forma mais grave. O banco de areia era muito mais extenso e o procedimento de levantar e a apoiar a roda não funcionou mais. O sol estava muito forte, e já não tínhamos mais água. Apesar de muito disposto a ajudar, o Altino já estava muito cansado e com sede e nos disse que iria buscar ajuda com sua moto, prometendo voltar depois de cerca de meia hora com água, uma pá e, se possível, com algum ajudante.
Começamos a enfrentar o pior momento, de espera, sem a garantia de que ele voltaria, e já tendo a convicção de que, se tivéssemos optado por voltar, e não por seguir em frente, já teríamos conseguido resolver o problema. Já passava do meio-dia e estávamos há mais de duas horas ali.
Passaram-se uns quarenta minutos e, ao invés do Altino com sua moto, quem se aproximou foi uma caminhonete, com uma outra pessoa chamada Antônio. Também disposto a ajudar, ele viu que a situação estava realmente difícil, e se ofereceu a rebocar o carro com a caminhonete. Eu e meu filho fomos com ele até sua fazenda para buscar água e algum tipo de cabo ou corda para permitir que a caminhonete rebocasse o carro. Minha esposa ficou no carro, aguardando.
Ao trafegar pelo restante da estrada com a caminhonete, percebi que o Altino estava completamente equivocado em sua sugestão. A estrada se tornaria ainda pior, com bancos de areia mais altos e em trechos de subida, que dariam muito mais trabalho do que o trecho no qual estávamos atolados. No caminho até a fazenda do Antônio, passamos pelo Altino, em sua moto, que trazia na garupa um ajudante.
Segundo as estimativas que fiz nos dias seguintes, no ponto em que o carro estava atolado nós estávamos a 3.800 metros em linha reta da confluência. Durante o percurso que fizemos dentro da caminhonete, chegamos a estar a 1.700 metros do ponto exato.
Chegamos à fazenda do Antônio. A fazenda não tinha casa, estava completamente vazia, uma vez que ele havia acabado de comprá-la. Enchemos duas garrafas com água em um rio, pegamos uma pá, uma corda e um cabo de aço e fizemos o caminho de volta.
Agora, com seis pessoas, duas pás, uma caminhonete, corda, cabo de aço e muita água, nossa situação havia melhorado muito. Discutimos a melhor alternativa e o Antônio concordou comigo em relação ao fato de que o melhor seria voltar, e não seguir em frente. Resolvemos, no entanto, que o carro seria rebocado pela frente, uma vez que seria muito mais fácil controlá-lo e permitiria que a própria tração do carro ajudasse no reboque. Ligamos o carro à caminhonete através do cabo de aço e conseguimos sair do banco de areia, contando com a colaboração da caminhonete, da própria tração do carro e das outras pessoas, que empurravam o carro por trás.
Após sair do banco, virei o carro para iniciar o caminho de retorno. Usando sempre o mesmo processo, conseguimos superar o mesmo banco de areia no qual havíamos atolado, depois atolamos e superamos o outro atoleiro, o primeiro que nos bloqueou no caminho de ida. Ao contrário do que havia previsto o Altino, o caminho de volta não nos trouxe nenhuma dificuldade adicional em relação àquelas que enfrentamos na ida. A caminhonete nos acompanhou até chegarmos à estrada principal, quando o risco de atolamento não mais existia. Já passava das 14 horas. Havíamos ficado mais de quatro horas presos na areia.
Bastante cansados e com muita fome, seguimos viagem até chegar à rodovia e, logo a seguir, paramos em um restaurante para tomar lanche e comprar mais água. Fizemos todo o caminho de volta até Marabá por um caminho diferente, o que confirmou a afirmação que fiz na narrativa anterior, ou seja, de que todas as rodovias federais do Tocantins estão em excelentes condições e que as rodovias estaduais desse mesmo estado estão em péssimas condições.
Nesse outro caminho não há balsa, e nós atravessamos o rio Araguaia através de uma ponte. De volta ao estado do Pará, na Rodovia Transamazônica, enfrentamos um pequeno trecho em estrada de terra, de doze quilômetros. Enfrentamos ainda uma paralisação na rodovia, provocada por um acidente de carro, e chegamos em casa por volta das 20 horas.
Para mim, o estado do Tocantins está se mostrando particularmente difícil para a realização de visitas bem-sucedidas a confluências. Após a visita bem-sucedida à confluência 10S 49W em dezembro de 2013 (uma confluência, a propósito, extremamente fácil, uma vez que se localiza a menos de 100 metros de uma rodovia), eu tentei visitar outras quatro confluências no estado, e nenhuma das quatro foram alcançadas.
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29-Mar-2015 -- This narrative continues from 7S 49W.
After spending the night in a hotel at Araguaína city, we left it about 8:00 heading to the second confluence of the trip, which access is by dirt road starting at BR-153 highway, between Araguaína and Wanderlândia cities.
We started the dirt road leg, initially in good condition. According to the satellite photos previously analyzed, we would drive by the main dirt road by nine kilometers, and after, there would be other ten kilometers in a secondary dirt road, which condition I couldn’t predict.
When we caught the secondary dirt road, we realized that it was in very bad condition, almost impassable. Although there were tire prints, apparently the road was being used only by pickup trucks. After driving about three kilometers more, the car bogged and we couldn’t go nor come back anymore.
We got out of the car and analyzed the situation. We realized that it would be absolutely impossible to go ahead, and the only option would be to unbog the car and come back by the same way, giving up of the confluence visit.
There isn’t any mud in the region, and the car was bogged, in reality, in the sand. The first attempt was to remove the sand behind the front tires, in order to allow them to get enough traction to come back. This attempt didn’t work very well, and, after analyzing a bit more, I realized that the real problem was that the sand in the middle of the road immobilized the car by its bottom, turning the front wheels almost suspended.
I initially tried to remove all the sand under the car, but this job was very hard, due to lack of tools. Then, I decided that a good attempt would be to lift the wheel with the jack and then support it at a more elevated level, putting under it a piece of wood on an amount of compacted sand. Making this with two front wheels, the bottom of the car would be free of sand.
When I had already caught the jack from the trunk and would start the work, a motorcycle approached and stopped near us. We explained to him what had happened and the person, named Altino, say that he would help us. He had the same conclusion, that is, the solution would be to use the jack to lift the wheel. However, he made a suggestion that would be a disaster: he said that the best option would be going ahead, and not to come back! According to him, the road condition would be better ahead and the way that we already had passed, although it hadn’t bogged us, could bog us when we would come back, because descents would turn to ascents.
We decided to rely on him, because he was really willing to help and, apparently, he knew the region, more than us. And, in fact, using the process that I had thought, that is, lifting the wheel with the jack and supporting it with a piece of wood, we managed to unbog the car without hardness.
The major problem, however, would come. Less than one kilometer ahead, we faced the same situation, and in this time much more serious. The sand blocked leg was much longer and the procedure of lifting the wheel didn’t work anymore. The sun was very hot and we hadn’t any water. Despite his willingness, Altino was very tired and thirsty and, then, he said to us that he would search for help with his motorcycle, promising to come back about half hour later with water, a shovel and, if possible, a helper.
We started to face the worst moment, waiting, without any assurance that he would come back, and already having the conviction that, if we had decided to come back, and don’t go ahead, we would already have solved the problem. It was after noon and we were more than two hours there.
About forty minutes after, instead Altino and his motorcycle, a pickup truck appeared, with another person, named Antônio. Also willing to help, he saw that the situation was really hard, and he said that he could tow the car with the pickup truck. I and my son went with him up to his farm in order to catch water and some kind of cable or rope to allow that the pickup truck tows the car. My wife stayed in the car, waiting.
When we passed by the remaining leg of the road in the pickup truck, I realized that Altino was completely wrong in his suggestion. The road turned worse, with tallest and longest areas with sand, in ascents, that would be much harder to pass than the track in that we bogged. On the way to Antônio's farm, we were passed by Altino, on his motorcycle, which was carrying a helper.
According to the estimation that I made in the following days, at the point in that the car was bogged, we were 3,800 meters beeline to the confluence. During the path that we made inside the pickup truck, we passed by a minimum of 1,700 meters to the exact point.
We arrived at Antônio's farm. It hadn’t any house; it was completely empty, because he had just bought it. We filled two bottles with water from a river; we caught a shovel, a rope, and a steel cable and came back.
Now, with six people, two shovels, a pickup truck, rope, steel cable, and a lot of water, our situation turned much better. We discussed about the best alternative and Antônio agreed with me, in relation to the fact that the best option would be to come back, and don’t go ahead. We decided, however, that the car must be towed by its front, because it would be much easier to control it and would allow that the own car traction helps the towing. We joined the car to the pickup truck with the steel cable and managed to unbog it, with the collaboration of the pickup truck, the own car traction, and the other people pushing the car by its back.
After leaving the sand, I turned the car in order to start the way coming back. Using always the same process, we managed to win the same region of sand that bogged us, then we won the other sand region, the first one that bogged us when going. Unlike previewed by Altino, the way coming back didn’t face any additional hardness in relation to the ones faced when going ahead. The pickup truck accompanied us up to the main dirt road, when the risk of getting bogged didn’t exist anymore. It was after 14:00. We spent more than four hours bogged in the sand.
Very tired and hungry, we headed up to the highway and, then, we stopped at a restaurant in order to take a snack and buy more water. We made all the way back to Marabá by another way, which confirmed what I wrote in the previous narrative, that is, all federal highways of Tocantins state are in excellent condition and all state highways of this same state are in very bad condition.
On this other way there isn’t a ferry, and we crossed Araguaia River by a bridge. Back to Pará state, at Transamazônica highway, we faced a short leg on a dirt road, twelve kilometers long. We also faced a traffic jam due to a car accident, and we arrived home at about 20:00.
To me, the Tocantins state turned particularly hard to successful confluence visits. After the successful visit to 10S 49W confluence in December 2013 (by the way, an extremely easy one, located less than 100 meters to a highway), I tried to visit other four confluences in this state, and none of them was achieved.