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25-Oct-2015 -- Esta narrativa é uma continuação da visita 8S 50W.
Após passar a noite na cidade de Redenção, acordei cedo e, por volta das 7 horas, segui viagem rumo ao leste, passei pela cidade de Conceição do Araguaia, atravessei a ponte sobre o rio Araguaia e entrei no estado do Tocantins. Segui por mais alguns quilômetros e cheguei à pequena cidade de Juarina. As rodovias estavam em condições muito boas.
Atravessei a cidade e iniciei o longo trecho de estrada de terra. Pelas fotos de satélite, após percorrer 25 quilômetros, seria possível chegar de carro a menos de 100 metros da confluência. No entanto, quando ainda faltavam cerca de 6.700 metros de estrada por percorrer, encontrei uma porteira trancada a cadeado.
Decidi, então, seguir em frente a pé, apesar da grande distância a percorrer, animado pelo fato de ainda ser bastante cedo (por volta das 10 horas da manhã), associado ao fato de esta ser uma confluência jamais visitada. Tranquei o carro, peguei a câmera fotográfica, o GPS e uma garrafa de água e atravessei a porteira.
Pela análise que fiz das fotos de satélite, para chegar à confluência a partir do local em que eu estava, a estrada de terra seguiria em linha reta por 3.000 metros, depois faria uma curva de 90 graus à direita e seguiria por mais 3.700 metros. O problema é que eu avistei, logo em frente, a sede da fazenda. Seguir em frente, portanto, traria o risco de eu ser impedido de prosseguir. Decidi, então, fazer outro caminho: ao invés de seguir em frente e depois virar à direita, conforme citado, eu virei à direita de imediato, pegando uma outra estrada de terra. Eu não tinha fotos de satélite deste outro caminho, e esta outra estrada que eu peguei dificilmente me levaria até o ponto exato. Considerei, entretanto, que a paisagem da região, com predominância de cerrado, permitiria que eu fizesse uma caminhada pelo mato até a confluência, se fosse necessário.
Iniciei a caminhada pela estrada de terra acompanhando o GPS, no qual a distância até o ponto exato ia diminuindo muito lentamente, uma vez que eu não estava indo na direção correta. A seta do GPS foi ficando cada vez mais perpendicular à direção em que eu estava caminhando, conforme eu já esperava que ocorresse.
Quando eu estava a cerca de 3.800 metros do ponto exato, vi que havia uma trilha bem aberta na direção correta e então deixei a estrada e entrei no mato. A trilha logo acabou, mas, conforme eu esperava, a vegetação aberta permitiu que eu continuasse a caminhada sem grandes dificuldades.
Passei por inúmeras cercas, por um lago, por um trecho de mata mais fechada (mas que tinha uma trilha que tornava fácil a travessia), por trechos com grande quantidade de gado que tiveram de ser evitados, por descidas de vales e subidas de pequenas elevações e, finalmente, conforme esperado, quando eu já estava a menos de 100 metros do ponto exato, cheguei à estrada de terra que dá acesso ao ponto. A travessia de 3.700 metros de uma estrada de terra até a outra foi a maior distância que já percorri no mato sem ter qualquer referência, a não ser a seta do GPS apontando para o destino final. Foi uma experiência muito interessante, embora bastante cansativa. A garrafa com meio litro de água que eu havia levado acabou pouco antes de concluir essa etapa. Percorri os metros finais e zerei o GPS sem dificuldade.
Esta visita marca o fim de uma sequência de nada menos que quatro tentativas frustradas de visitar confluências no estado do Tocantins. Após a primeira confluência visitada neste estado, a 10S 49W, há quase dois anos, eu tentei visitar as confluências 11S 49W, 6S 48W, 7S 49W e 7S 48W, todas elas sem sucesso.
Para o caminho de volta, eu planejava fazer o caminho todo pela estrada de terra, não me importando em passar em frente à sede da fazenda. Afinal, arranjar uma desculpa quando se está saindo da fazenda é bem mais fácil do que quando se está entrando. Além disso, eu estava sem água, fazer todo o caminho de volta pelo mato seria muito cansativo e, se eu tivesse sorte, eu ainda poderia conseguir uma carona na estrada.
Iniciei a caminhada de retorno pela estrada mas, para minha surpresa, a estrada estava totalmente ocupada pelo gado, o que me obrigou a voltar para o mato. A caminhada se tornou cada vez mais cansativa devido à distância, à falta de água, ao calor e ao horário, por volta do meio-dia. Tive que percorrer mais da metade do caminho de retorno pelo mato e, quando eu finalmente consegui voltar novamente para a estrada, eu já estava esgotado e com muita sede.
A caminhada foi se tornando cada vez mais lenta, uma vez que eu tive que ir parando várias vezes para descansar. Quando eu encontrei um lago à beira da estrada, parei para beber água no lago e fiquei algum tempo descansando sob uma árvore. Com muita dificuldade, passei em frente à sede da fazenda, onde não fui abordado por ninguém. Mais algum tempo, e finalmente cheguei ao carro, onde havia mais uma garrafa de água. Precisei de bastante tempo para me recuperar e retomar a viagem. Foram três horas e meia de caminhada, durante os quais eu estimo que caminhei por volta de 15 quilômetros, a maior parte pelo mato.
Depois de descansar, segui viagem de volta à cidade de Juarina, e parei em uma lanchonete. Eu pretendia tomar um lanche reforçado, uma vez que já eram quase 2 horas da tarde. No entanto, devido ao enorme cansaço que eu ainda estava sentindo, não consegui comer nada. Consegui apenas beber um refrigerante. Comprei mais refrigerante, biscoitos e chocolate e segui viagem. A visita à lanchonete também me mostrou que eu estava com muita dificuldade para caminhar.
Ao retomar a viagem, aos poucos, o cansaço foi diminuindo. Só consegui comer alguma coisa cerca de duas horas depois. Passei pela cidade de Araguaína e, quando anoiteceu, eu estava chegando à balsa que faz a travessia do rio Araguaia.
Já passei por essa balsa duas outras vezes, relatadas, respectivamente, nas narrativas das confluências 15S 56W e 7S 49W. Na primeira há, inclusive, uma foto da travessia. Desta vez, no entanto, foi a minha primeira oportunidade de fazer a travessia à noite. As luzes das cidades de Xambioá, no Tocantins, e de São Geraldo do Araguaia, no Pará, e o imenso rio Araguaia entre elas, proporcionam uma vista espetacular.
As citadas cidades de Xambioá e São Geraldo do Araguaia ficaram conhecidas por terem sido palco da Guerrilha do Araguaia, foco guerrilheiro de esquerda que lutou contra a ditadura militar, entre os anos de 1972 e 1974.
Após a travessia, parei em um posto para abastecer e comprar mais refrigerante e segui viagem. Os cerca de 110 quilômetros seguintes, até chegar à rodovia Transamazônica, estão em condições muito ruins. Para dirigir à noite em uma estrada extremamente esburacada, as marcas de derrapadas no asfalto são uma valiosa e confiável sinalização da presença iminente de buracos.
Cheguei em casa por volta das 21h 30min, após dirigir, no sábado e no domingo, um total de 1.087 quilômetros.
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25-Oct-2015 -- This narrative continues from 8S 50W.
After spending the night at Redenção city, I woke up early and, about 7:00, I restarted the trip, heading to east. I passed by Conceição do Araguaia city, crossed the bridge over Araguaia River and entered in Tocantins state. I traveled by some more kilometers and arrived at Juarina small city. The highways are in very good condition.
I crossed the city and started the long dirt road leg. According to satellite photos, after driving by 25 kilometers it would be possible stop the car less than 100 meters to the confluence. However, when it was remaining 6,700 meters for drive, I found a locked gate.
I decided, then, going ahead on foot, despite the long distance, animated with the fact that it was very early (about 10:00 in the morning), and the fact that it is a never visited confluence. I locked the car, caught the camera, the GPS, a bottle of water, and crossed the gate.
According to my analysis of satellite photos, in order to reach the confluence from the place where I was, the dirt road follows straight by 3,000 meters, then it turns right in a 90 degrees curve and follows more 3,700 meters. The problem is that I saw, just in front, the farmhouse. Going ahead, then, creates the risk of my passage being denied. I decided, then, make other way: instead of going straight and later turning right, as cited, I turned right immediately, catching another dirt road. I hadn’t satellite photos of this other way, and this other road probably wouldn’t go up to the exact point. I thought, however, that the vegetation of the region (predominantly cerrado - Brazilian savanna), would permit a hike up to the confluence, if necessary.
I started the hike by the dirt road accompanied by the GPS, on which the distance to the exact point was decreasing very slowly, because I wasn’t going in the correct direction. The GPS arrow turned more and more perpendicular to the direction in that I was hiking, as I already had thought that would occur.
When I was about 3,800 meters to the exact point, I saw a track very clearly going in the correct direction and then I left the road and entered in the bush. The track ran out quickly, but as I thought, the open vegetation allowed me to go ahead without much hardness.
I passed by a lot of fences, by a lake, by a region of dense forest (but with a track that allows an easy passage), by regions with a lot of cattle that must be avoided, down valleys and up small elevations and, finally, as expected, when I was already less than 100 meters of the exact point, I arrived at dirt road that passes near the point. The 3,700 meters long crossing from one dirt road to another was the longest distance that I hiked in the bush without any reference, except the GPS arrow pointing the final destination. It was a very interesting experience, although very tiring. The half-liter bottle of water that I carried ran out a bit before ended this first part. I hiked the final meters and got all GPS zeroes without hardness.
This visit marks the end of a sequence of four unsuccessful confluence visit attempts in Tocantins state. After the first visit in this state, the 10S 49W, almost two years ago, I tried the confluences 11S 49W, 6S 48W, 7S 49W and 7S 48W, all of them unsuccessful.
For the way back, I planned to make all the way by the dirt road, without concerning about passing in front of the farmhouse. After all, creating an explanation when leaving the farm is much easier than when entering it. Beside of this, I hadn’t water, making all the way back by the bush would be very tiring and, if I were lucky, I could get a ride on the road.
I started the hike back by the road but, to my surprise, the road was totally full of cattle, and then I had to go back into the bush. The hike turned out more and more tiring due to the distance, the lack of water, the heat, and the time, about noon. I had to hike more than half of the way back by the bush and, when I finally managed to reach the road again, I was exhausted and very thirsty.
The hike turned more and more slow, and I had to stop several times to rest. When I found a lake beside the road, I stopped to drink water in the lake and spent some time resting under a tree. With much hardness, I passed in front of the farmhouse, where nobody talked to me. Some more time, and I finally arrived at the car, where there was another bottle of water. I needed a lot of time to recover and resume the trip. I spent three and a half hours hiking, and hiked by about 15 kilometers, the majority of them in the bush.
After resting, I followed back to Juarina city and stopped in a snack bar. I intended to take a big snack, because it was almost 14:00. However, due to extreme exhaustion that I was still feeling, I couldn’t eat anything. I could only drink a soft drink. I bought more soft drinks, biscuits, and chocolate and went ahead. The visit to the snack bar showed me also that I was with a lot of hardness to hike.
When resuming the trip, the tiredness slowly decreased. I only could eat something about two hours later. I passed by Araguaína city and, when the night fell, I was arriving at the ferry over the Araguaia River.
I had already passed by this ferry two other times, cited, respectively, in the 15S 56W and 7S 49W confluence narratives. In the first of them there is a photo of the ferry crossing. This time, however, was my first opportunity to make the crossing at night. The lights of Xambioá city, in Tocantins state, and São Geraldo do Araguaia city, in Pará state, and the huge Araguaia River between them, allow for a spectacular sight.
The cited cities Xambioá and São Geraldo do Araguaia are known because there occurred the Guerrilha do Araguaia, a communist guerrilla that fought against the military dictatorship between the years 1972 and 1974.
After crossing the river, I stopped at a gas station to fuel and buy more soft drinks, and went ahead. The following about 110 kilometers, up to Transamazônica highway, are in very bad condition. When driving at night on a road with many holes, the marks of tire slip on the asphalt are a valuable and reliable signal of imminent holes.
I arrived at home at about 21:30, after driving on Saturday and Sunday for a total of 1,087 kilometers.